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terça-feira, 5 de julho de 2011

Um olhar sobre a crise...


A propósito do lançamento do livro "Portugal tem saída – um olhar sobre a crise", o ex-presidente, Dr. Mário Soares revela a sua visão da crise, que na minha opinião se revela bastante distorcida. 


Na sua opinião a crise podia ter sido evitada se o Presidente tivesse sido mais interventivo e se a oposição não tivesse falhado ao fazer cair o governo do Eng.º Sócrates, que é um líder forte com grandes virtudes e alguns defeitos. Só faltou mesmo dizer que se os mortos já não tivessem morrido, ainda estariam vivos!

Mas, pergunto eu.

O que nos levou à crise não foi a irresponsabilidade do Primeiro-ministro e Secretário-geral do Partido Socialista em insistir manter um governo sem apoio no Parlamento?

Não foi pelo governo não ter conseguido cumprir os acordos, tratando com desprezo todos os restantes partidos?

Que o problema não era político mas sim económico e que isso obrigaria a uma postura de menor confronto e maiores consensos?

Que o Governo escudado não se sabe bem em quê, tentava fugas para a frente, acordando com os líderes internacionais as medidas, antes de ouvir o Parlamento e o Presidente da República?

O Sr. Dr. Soares começa a revelar a falta da argúcia política de outros tempos.

Nascido em Dezembro de 1924, é meia dúzia de dias mais novo que o meu pai, e aos 86 anos já feitos, o Dr. Soares deveria ter a coragem e a humildade de abandonar a ribalta, retirando-se de cena.

Recordo-o com respeito não por aquilo que ele fez quando passou pelos sucessivos governos, ou pela Presidência da República, mas pelo que ele não deixou fazer no verão quente de 1975. Foi de extrema importância durante o PREC, na estabilização do país não permitindo uma irresponsável viragem à esquerda que nos colocaria em rota de colisão com os restantes países da Europa.

O país, por essa altura, era a preto e branco sendo o cinzento a cor oficial. Dos edifícios, das pessoas e das ideias. Era tudo muito chato. 

Desses tempos conturbados recordo o debate que o opôs ao grande rival à época, Dr. Álvaro Cunhal, secretário-geral do Partido Comunista Português. Ambos da velha escola. Qualquer um deles, mas particularmente o Dr. Cunhal, com uma longa história de oposição e luta por aquilo em que acreditava. 

Discutiam-se ideias e projectos, com vigor e raça, mas simultaneamente com educação e respeito pelo adversário.

Esse histórico debate (Nov-75) durou mais de 3 horas e nessa altura os entrevistados podiam falar meia hora seguida sem que ninguém os interrompesse ou se interrompessem.

Estar em campos diametralmente opostos, não implicava darem-se à liberdade de serem mal-educados e grosseiros.

Foi essa a grande lição de educação que ficou para a história. Pode fazer-se política sem se ser prepotente e arrogante.






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