Recordo-me que em tempos passados, não tão longínquos, todos os finais de dia ou depois de jantar, encontrava-me com um grupo de amigos e à volta da mesa do um café ou numa esplanada, no verão, passávamos bons momentos em agradável cavaqueira.
Falávamos principalmente sobre a actualidade. Não existia internet, nem a profusão de comunicação que existe actualmente. Quando estávamos mais inspirados, ou existia um convidado “especial”, conhecido de alguns de nós, amigos de tantos anos, faziam-se tertúlias.
As conversas eram mais sérias. Discutiam princípios filosóficos subjacentes a diferentes conceitos de organização dos países e das sociedades. A militância ou apenas a simpatia por organizações partidárias era diversa. Discutia-se muito, mas mesmo quando o assunto era mais escaldante, e as conversas se faziam uns decibéis acima do normal, no final, tudo acabava bem. Continuávamos a pensar de forma diferente, mas a amizade e o respeito que tínhamos, uns pelos outros, superava todas as diferenças de opinião.
Tudo isso acabou com o decorrer dos anos.
Hoje, as sempre apressadas conversas de corredor giram à volta da crise. Fala-se sobre sobrevivência. Já não há tempo para outras conversas, nem pachorra para tertúlias. Chegar a casa e deixar de pensar, é o único objectivo do que resta da classe média.
Se na minha juventude havia diferenças entre esquerda e direita, quer no discurso quer na prática, nos tempos que correm, tudo isso se tornou irrelevante. As ideologias foram corrompidas por gente medíocre que se tornou profissional da política e controla as máquinas partidárias. Gente que muda de direita para esquerda, e vice-versa, conforma os seus próprios interesses pessoais.
Há muito que deixaram de se discutir ideias e princípios.
As conversas à volta de uma mesa acabaram, e as ideologias, têm os dias contados.
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